quarta-feira, 12 de agosto de 2009

AMPLOS

AMPLOS é um grupo de pais que se propõe lutar por uma sociedade mais justa, opondo-se a todas as formas de discriminação. Pela forma como lhes toca enquanto pais, concentrar-se-á preferencialmente no combate às formas de discriminação relacionadas com a orientação sexual..


O que sabemos e sentimos: Sentimos que muito falta fazer para que os homossexuais sejam aceites, possam assumir abertamente a sua identidade, exprimir os seus afectos, casar, ter igualdade de tratamento jurídico; em suma serem pessoas de pleno direito, serem cidadãos de plena cidadania.Sabemos que a aceitação da sua orientação pelos pais é um dos momentos mais marcantes, e fundamentais, na sua própria aceitação como pessoas. É um momento intenso para ambos. Na maioria das vezes sofrido, por ambos.Sabemos que muitos pais reagem de forma brutal a essa situação pelas expectativas que criaram em relação aos filhos, pelos preconceitos que circulam, e abundam, na sociedade, pela falta de informação resultante dos tabus que se têm perpetuado em torno da discussão aberta do tema.


Noticia:

"Estamos do lado do preconceito contra os nossos filhos ou do lado dos nossos filhos contra o preconceito?" A pergunta levou à criação da AMPLOS, Associação de Mães e Pais pela Liberdade da Orientação Sexual. Pelos filhos, pelos pais, "pelos valores mais fortes da família" - por amor.


"Não reagimos da forma mais correcta possível. De certeza que fiz coisas erradas ou menos certas." Margarida Lima Faria, 51 anos, socióloga, casada há trinta, mãe de duas filhas, descobriu há cinco anos que uma delas é homossexual. Descobriu é uma forma de dizer: foi informada pela própria. "Não foi uma conversa nada fácil, sobretudo para ela. Sinto orgulho por ela nos ter dito, por isso corresponder a uma relação de confiança e à noção que teria da nossa capacidade de a aceitar como ela é. E por corresponder a uma ética da verdade, algo que tentámos sempre construir na nossa família."

A hipótese, confessa, "nunca se tinha colocado". E a reacção foi "mais de confusão que de desilusão". Sorri. "Uma coisa que queria dizer aos outros pais é que no dia seguinte ao da revelação está tudo igual, o mundo não acabou - até está melhor, porque se tem um filho mais feliz." Mas nem toda a gente, é sabido, vê as coisas assim. "Tenho uma amiga médica que me contou que uns amigos lhe ligaram para falar do grande drama que acontecera à filha. E ele achou que era algo tão grave que perguntou 'Não me digam,é um cancro?' E eles responderam: 'Pior que isso' ."
Se os pais não aceitam os filhos é um golpe terrível na sua auto-estima. E as pessoas que não gostam de si próprias não são bons cidadãos."


“Fui a uma reunião da ILGA e quando lemos a primeira frase do manifesto, 'Somos um grupo de mães e pais', houve um jovem que disse 'Isto não está a acontecer'." Pára, como quem sustém qualquer coisa. "Havia pessoas com as lágrimas a correr pela cara abaixo." Lágrimas de felicidade, desta vez - ou de esperança. "Houve alguns que nos contaram que um dia a mãe ou o pai lhes perguntou 'És homossexual?', e eles responderam 'Não'. E a conversa acabou aí. As pessoas contentam-se com o que querem ouvir..." A esses pais, a todos os pais que acham que os filhos os desiludem com coisas como estas, Margarida gostaria de dizer isto: "Não é um problema, um grande problema. É uma contrariedade. A vida em sociedade faz-se de expectativas, das expectativas que acalentamos em relação aos outros. E se uma expectativa se gorar, há a capacidade de adaptação, em que é muito importante o amor e a inteligência. É tudo uma questão de amor, não é?"

A AMPLOS, nome de lugar grande, coisa que abarca, de abraço, nasceu sobretudo disso - "dos valores mais fortes da família". "Desde que pusemos a circular o nosso manifesto que recebemos imensos mails e contactos de encorajamento. As pessoas dizem 'Até que enfim', 'Força', 'Que bom'... Fiquei muito surpreendida com tantas reacções positivas. Um dos que mais me comoveu foi o da mãe de duas filhas de três e cinco anos que disse querer participar para que elas pudessem crescer num mundo melhor."

Sem comentários: