Aquilo que distingue as grandes pessoas das outras são, entre outras coisas, os seus princípios e a forma como os seguem. Pelo menos devia ser assim, devíamos ser pessoas de palavra, lutarmos por aquilo que acreditamos,
fazermo-nos ouvir quando achamos ser portadores de razão e aguentar com as consequências. Claro que temos de estar sempre abertos para ouvirmos os outros, nada nós diz que nós é que temos razão, e ouvindo os outros até nos melhoramos e fundamentamos melhor as nossas opiniões. Mas uma grande pessoa segue aquilo em que acredita até ao fim e não se desvia por outros caminhos. Como me disseram, os fins nunca justificam os meios.
Desde que me apercebi disto, e desde que quero ser alguém diferente, que tento seguir os meus princípios. Cada vez mais me tenho melhorado como pessoa, tenho opiniões fortes que defendo até à última, mas tento sempre ouvir as dos outros e tento percebe-las.
Mas no outro dia numa discussão, em que eu dizia isto mesmo, que as pessoas devem agir conforme os seus princípios e direitos, opiniões e objectivos, acusaram-me de eu própria não o fazer, de eu violar os meus direitos e ir contra os meus princípios. Neguei, pedi exemplos. Tive de me calar, e ficar cá dentro a remoer o assunto.
O exemplo foi simples: eu até posso querer beijar a minha namorada em público, e acho que tenho esse direito, mas não o faço.
Ora, eu defendo a igualdade, defendo que todos temos direitos iguais independentemente da orientação sexual, raça, género, etc. Somos todos iguais, temos todos os mesmos direitos e deveres. No entanto vou contra isso todos os dias.
Se eu própria, que digo defender tanto a igualdade, não beijo, não dou a mão, não dou um abraço à minha namorada só porque alguém pode achar mal, não estarei eu a contribuir para continuar a haver discriminação?
Eu própria estou a agir como se fosse diferente!
Se todos os homossexuais desde sempre tivessem feito o seu dia-a-dia normalmente, hoje já era a coisa mais normal e banal do mundo, já ninguém ficava espantado por ver duas raparigas aos beijos, dois homens com uma filha, duas mulheres casadas. Obviamente que percebo que houve quem fizesse isso e fosse morto, fosse preso, fosse considerado doente, fosse posto fora de casa, fosse agredido tanto verbalmente como fisicamente, etc. Mas de certeza que pelo menos se sentiram orgulhosos de quem são!
...já me estou a desviar e a por as culpas nos outros.
Voltando atrás, depois dessa conversa prometi-me que ia mudar. Que não podia ser assim, que era inadmissível, até tinha vergonha de mim por criticar quem não segue os seus princípios e eu fazia o mesmo.
Mas hoje desiludi-me outra vez. Hoje neguei que namorava com uma rapariga, disse que era invenção de quem o estava a dizer, para nem ligarem.
Nojo. Nojo. Nojo de mim é o que sinto. Mas do que tenho eu medo? É o medo que não deixa as pessoas avançarem, é o medo que nos deixa parados na porcaria onde estamos. Mas, repito, do que tenho eu medo? Não sou eu igual a todos os outros, não tenho os mesmos direitos, não sou a mesma pessoa, apenas com o
pormenor de ser homossexual?
Então porque continuo eu própria a agir como se fosse diferente, só para não incomodar, chatear, aqueles que me consideram diferente? Para lhes dar razão?
O que estou eu a fazer se não estar a contribuir para a infelicidade de próximos?
Estou a ir contra os meus princípios, contra aquilo que eu defendo, contra aquilo que eu acredito. E isto não pode ser. Preciso urgentemente de mudar. Preciso de todos os dias caminhar pela rua com orgulho de ser quem sou. Preciso de ser alguém…
Preciso de ser uma Rosa
Parks.